"Ninguém engole sapo de livre
vontade. Engole porque não tem outro jeito. Tem sempre alguém que nos obriga a
engolir o sapo, à força. A pessoa que nos obriga a engolir o sapo, a gente
nunca mais esquece.Diz a Adélia que “aquilo que a memória amou fica eterno”. Aí
eu acrescento algo que aprendi no Grande sertão. Conversa de jagunços
matadores. Diz um: “Mato mas nunca fico com raiva.” Retruca o outro, espantado:
“Mas como?” Explica o primeiro: “Quem fica com raiva leva o outro para a cama.”
É isso. A gente leva para a cama a pessoa que nos obrigou a engolir o sapo. A
raiva também eterniza as pessoas. Não adianta falar em perdão. A gente fica
esperando o dia em que ela também terá de engolir um sapo."
(Rubem Alves)
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